sexta-feira, 20 de junho de 2014

Você Sabia que o corpo humano tem gordura marrom (boa) e gordura branca (ruim)?



QUER MUDAR SEU TIPO DE GORDURA DE UMA QUE ARMAZENA PARA UMA QUE EMAGRECE?
Tremer e exercícios físicos convertem a gordura branca em gordura marrom

Como assim? Existem diferentes tipos de gorduras no corpo humano? Uma que engorda e outra que emagrece?

Pois é, um novo estudo sugere que os tremores e atividades de exercícios moderados são igualmente capazes de estimular a conversão de “gordura branca”, que armazena energia, em “gordura marrom”, que queima energia. 

O tecido adiposo é o principal reservatório energético do organismo. Este tecido é o que armazena a gordura do nosso corpo. As células do tecido adiposo, os adipócitos ou células de gordura, possuem a capacidade de armazenar triglicerídeos (que são as moléculas que constituem todos os tipos de óleo de que nos alimentamos, manteiga, óleo vegetal ou animal, frituras, etc) em quantidades correspondentes a 80- 95% de seu volume. 

Existem dois tipos de tecido adiposo: o tecido adiposo branco ou a gordura branca e o tecido adiposo marrom ou gordura marrom. Suas principais diferenças estão entre os adipócitos que os constituem (Figura 1), são eles:



Figura 1: À direita, células de gordura branca e marrom. As mitocôndrias é que dão cor marrom à esta gordura e que geram calor, queimando os estoques de triglicerídeos, ou seja, a gota de gordura muito grande que ocupa a maior parte do citoplasma da célula de gordura branca. À esquerda, um exemplo do tecido adiposo de humano, branco e marrom, respectivamente, à esquerda e direita.

O adipócito branco ou célula de gordura branca, quando totalmente desenvolvido, ou seja, maduro, armazena os triglicerídeos em uma única e grande gota lipídica que ocupa a porção central da célula, deslocando o citoplasma, núcleo e demais organelas para a periferia. Apesar de apresentar volumes variáveis, os adipócitos brancos maduros são células grandes que podem alterar acentuadamente seu tamanho, conforme a quantidade de triglicerídeos acumulados.

Ele possui uma distribuição generalizada pelo organismo, envolvendo ou mesmo se infiltrando por quase toda a região subcutânea, ou seja, abaixo da pele, por órgãos e vísceras ocas da cavidade abdominal (barriga), ou do mediastino (tórax ou peito) e por diversos grupamentos musculares. A função deste adipócito é fornecer proteção mecânica, amenizando o impacto de choques e permitindo um adequado deslizamento dos músculos, uns sobre os outros, sem comprometer a sua integridade física e funcional. Além disso, por possuir distribuição mais abrangente, incluindo derme e tecido subcutâneo (que formam a pele), é também considerado um excelente isolante térmico. Por isso os gordinhos sentem menos frio que as pessoas mais magras.

Nas últimas décadas, as pesquisas destacam às descobertas da sua capacidade de secretar hormônios e, portanto, ao seu papel endócrino. Tais hormônios são denominados de adipocinas e revolucionaram os conceitos sobre a função biológica do tecido adiposo branco, mostrando que sua função não é apenas de fornecer e armazenar energia, mas também de ser um órgão dinâmico e central da regulação metabólica.

O adipócito marrom ou célula de gordura marrom tem como principal característica ser termogênico, ou seja, regular a produção de calor e, consequentemente a temperatura corporal. Ao contrário do que se pensava nas últimas décadas, de que esse tipo de adipócito estava praticamente ausente em adultos, novos estudos científicos mostraram que a quantidade desse tecido em adultos não é tão pequena. Acreditava-se que estivesse presente somente nos bebês (Figura 2).


 Figura 2: Distribuição da gordura marrom no bebê. Durante o desenvolvimento, essa gordura vai reduzindo de tamanho. Hoje, com as descobertas descritas, é possível recuperar este tecido.

Ao contrário do adipócito branco, o adipócito marrom é menor, possui várias gotículas de triglicerídeos de diferentes tamanhos, citoplasma relativamente abundante e numerosas mitocôndrias (Figura 1). A sua capacidade de produzir calor é pelo fato de que suas mitocôndrias não possuem o complexo enzimático necessário para a síntese de ATP e utilizam a energia liberada, principalmente, dos ácidos graxos para a termogênese (ou geração de calor). Esse processo ocorre através da proteína desacopladora-1 (UCP-1, também conhecida como termogenina), localizada na dentro da mitocôndria, na membrana mitocondrial interna. Ela atua como um canal de próton que permite o regresso de prótons (H+) gerados no ciclo de Krebs para a matriz mitocondrial, desviando-os do complexo F1F0 (ATP sintase), impedindo a síntese de ATP e permitindo que se dissipe em calor. A coloração escurecida (origem do nome “adipócito marrom”) é devido à alta concentração de citocromo oxidase dessas mitocôndrias.

Cerca de 50 g de gordura branca armazena mais de 300 quilocalorias (Kcal) de energia. A mesma quantidade de gordura marrom pode queimar até 300 Kcal por dia.

O endocrinologista Dr. Paul Lee, do Instituto de Pesquisa Médica Garvan, de Sydney, Austrália, recentemente realizou o estudo nos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), em Washington, nos EUA. Seu trabalho descobriu uma maneira em que a gordura e o músculo se comunicam entre si através de hormônios específicos _ transformando as células de gordura branca em células de gordura marrom para nos proteger contra o frio.

Dr. Lee mostrou que, durante a exposição ao frio e se fazendo exercício, os níveis do hormônio Irisin (que é produzido pelo músculo) e FGF21 (produzido pela gordura marrom) aumentaram. Especificamente, cerca de 10-15 minutos de tremores resultaram em aumentos equivalentes nos níveis de Irisin como se a pessoa estivesse fazendo exercícios moderados durante uma hora. No laboratório, Irisin e FGF21 transformaram as células humanas de gordura branca em células de gordura marrom por um período de seis dias. O estudo foi publicado em fevereiro na Cell Metabolism (1).

Todos nós nascemos com o suprimento de gordura marrom em torno de nossos pescoços (Figura 2), uma maneira da natureza de nos manter aquecidos enquanto crianças. Até poucos anos atrás, pensava-se que a gordura marrom desaparecia na primeira infância, mas agora sabemos que a gordura marrom está presente na maioria, se não todos, os adultos. Sabemos também que, adultos com mais gordura marrom são mais magros do que aqueles que não a tem. Se você está pensando “Oh vontade de tê-las mais!”… É possível e, agora, sabemos qual o mecanismo envolvido!

Grandes expectativas e incentivos no campo da gordura marrom têm aumentado significativamente nos últimos anos, devido a sua natureza de queima de energia fazer com que seja um potencial alvo terapêutico contra a obesidade e o diabetes. A transformação de gordura branca em gordura marrom pode proteger os animais, e nós seres humanos, contra o diabetes, a obesidade e o acúmulo de gordura no fígado (ou esteatose hepática). Inclusive, os níveis de glicose são mais baixos em humanos com mais gordura marrom (1).

No presente estudo, Lee propôs compreender o mecanismo subjacente para a ativação da gordura marrom. Já se sabia que as temperaturas frias estimulam a gordura marrom, mas não estava claro como o corpo sinaliza esta mensagem para suas células.

O corpo pode sentir e transmitir as mudanças ambientais aos diferentes órgãos através dos nervos e hormônios. Estes são os mensageiros que levam a informação de uma célula do cérebro, por exemplo, para uma célula muscular ou gordurosa. Sendo um endocrinologista, Lee investigou os hormônios que são estimulados quando estamos em ambientes frios.

Quando estamos com frio, primeiro ativamos a nossa gordura marrom porque ela queima energia e libera calor para nos proteger do frio. Quando essa energia é insuficiente, os músculos contraem-se mecanicamente, ou tremem, gerando calor. O problema era que não se sabia como os músculos e as gorduras se comunicavam neste processo.

Sendo assim, a equipe do Dr Lee colocaram os voluntários em ambiente em que o frio era aumentado, passando de 18 graus para 12 graus Celsius, até que começassem a tremer. Então, retiraram as amostras de sangue para medir os níveis hormonais e detectaram os tremores por dispositivos especiais, colocados sobre a pele, que sentem a atividade elétrica muscular. Os voluntários tremiam quando a temperatura estava entre 16 ou 14 graus Celsius, variando de pessoa para pessoa.

Assim, identificaram dois hormônios que são estimulados pelo frio – Irisin e FGF21 – que são liberados pelos músculos que tremiam e pela gordura marrom, respectivamente. Esses hormônios aumentaram a taxa de queima de energia das células de gordura branca humanas em laboratório, e as células de gordura tratadas começaram a emitir calor. Uma função característica da gordura marrom.

A Irisin, o hormônio que é secretado pelos músculos quando tremem, foi descoberta em 2012, por um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard, EUA. Investimento do NIH (Vejam só a importância do investimento público e privado nessas descobertas). Eles identificaram-na como um hormônio que é secretado pelo músculo quanto este é estimulado com exercício físico, que transformava a gordura branca em gordura marrom em animais.

O aspecto intrigante do achado foi que, o próprio exercício produz calor, então por que o exercício muscular iniciaria um processo que poderia gerar ainda mais calor? É como se colocássemos uma picanha suculenta na brasa e depois colocássemos mais álcool sobre a picanha para queimar mais rápido. Com a picanha seria um desperdício, mas no caso dos músculos, a queima extra de calor ajudaria na redução de peso, no número de gordura branca, no controle do diabetes, entre outras funções.

Lee convidou os participantes do estudo expostos ao frio para participar de testes de exercício físico para comparar os dois processos. Com isso, Lee e seu grupo descobriram que o exercício físico com nível moderado, por uma hora em uma bicicleta, produzia a mesma quantidade de Irisin na situação de frio, com os músculos estremecendo por 10-15 minutos (1). Pelo jeito, tremer de frio é um bom exercício!

Eles especulam que os exercícios físicos poderiam imitar os tremores, já que há contração muscular durante ambos os processos, e que a estimulação da secreção de Irisin pelo exercício físico poderia ter evoluído a partir do estremecer dos músculos durante o frio.

Do ponto de vista clínico, Irisin e FGF21 representam um sistema hormonal estimulado pelo frio, o que era até então desconhecido, e podem ser aproveitados em futuros aspectos terapêuticos da obesidade através da ativação da gordura marrom.

FONTE: Nanocell News




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