QUER MUDAR SEU TIPO DE GORDURA DE
UMA QUE ARMAZENA PARA UMA QUE EMAGRECE?
Tremer e exercícios físicos
convertem a gordura branca em gordura marrom
Como
assim? Existem diferentes tipos de gorduras no corpo humano? Uma que engorda e outra
que emagrece?
Pois é, um novo estudo sugere que os
tremores e atividades de exercícios moderados são igualmente capazes de
estimular a conversão de “gordura branca”, que armazena energia, em “gordura
marrom”, que queima energia.
O tecido adiposo é o principal reservatório
energético do organismo. Este tecido é o que armazena a gordura do nosso corpo.
As células do tecido adiposo, os adipócitos ou células de gordura, possuem a
capacidade de armazenar triglicerídeos (que são as moléculas que constituem
todos os tipos de óleo de que nos alimentamos, manteiga, óleo vegetal ou
animal, frituras, etc) em quantidades correspondentes a 80- 95% de seu volume.
Existem dois tipos de tecido adiposo: o
tecido adiposo branco ou a gordura branca e o tecido adiposo marrom ou gordura
marrom. Suas principais diferenças estão entre os adipócitos que os constituem (Figura 1), são eles:
Figura 1: À direita, células de gordura
branca e marrom. As mitocôndrias é que dão cor marrom à esta gordura e que
geram calor, queimando os estoques de triglicerídeos, ou seja, a gota de
gordura muito grande que ocupa a maior parte do citoplasma da célula de gordura
branca. À esquerda, um exemplo do tecido adiposo de humano, branco e marrom,
respectivamente, à esquerda e direita.
O adipócito
branco ou célula de gordura branca, quando totalmente desenvolvido, ou seja,
maduro, armazena os triglicerídeos em uma única e grande gota lipídica que
ocupa a porção central da célula, deslocando o citoplasma, núcleo e demais
organelas para a periferia. Apesar de apresentar volumes variáveis, os adipócitos
brancos maduros são células grandes que podem alterar acentuadamente seu
tamanho, conforme a quantidade de triglicerídeos acumulados.
Ele possui uma
distribuição generalizada pelo organismo, envolvendo ou mesmo se infiltrando
por quase toda a região subcutânea, ou seja, abaixo da pele, por órgãos e
vísceras ocas da cavidade abdominal (barriga), ou do mediastino (tórax ou
peito) e por diversos grupamentos musculares. A função deste adipócito é
fornecer proteção mecânica, amenizando o impacto de choques e permitindo um
adequado deslizamento dos músculos, uns sobre os outros, sem comprometer a sua
integridade física e funcional. Além disso, por possuir distribuição mais
abrangente, incluindo derme e tecido subcutâneo (que formam a pele), é também
considerado um excelente isolante térmico. Por isso os gordinhos sentem menos frio
que as pessoas mais magras.
Nas últimas
décadas, as pesquisas destacam às descobertas da sua capacidade de secretar
hormônios e, portanto, ao seu papel endócrino. Tais hormônios são denominados
de adipocinas e revolucionaram os conceitos sobre a função biológica do tecido
adiposo branco, mostrando que sua função não é apenas de fornecer e armazenar
energia, mas também de ser um órgão dinâmico e central da regulação metabólica.
O adipócito
marrom ou célula de gordura marrom tem como
principal característica ser termogênico, ou seja, regular a produção de calor
e, consequentemente a temperatura corporal. Ao contrário do que se pensava nas
últimas décadas, de que esse tipo de adipócito estava praticamente ausente em
adultos, novos estudos científicos mostraram que a quantidade desse tecido em
adultos não é tão pequena. Acreditava-se que estivesse presente
somente nos bebês (Figura 2).
Figura 2:
Distribuição da gordura marrom no bebê. Durante o desenvolvimento, essa gordura
vai reduzindo de tamanho. Hoje, com as descobertas descritas, é possível
recuperar este tecido.
Cerca de 50 g de
gordura branca armazena mais de 300 quilocalorias (Kcal) de energia. A mesma
quantidade de gordura marrom pode queimar até 300 Kcal por dia.
O
endocrinologista Dr. Paul Lee, do Instituto de Pesquisa Médica Garvan, de
Sydney, Austrália, recentemente realizou o estudo nos Institutos Nacionais de
Saúde (NIH), em Washington, nos EUA. Seu trabalho descobriu uma maneira em que
a gordura e o músculo se comunicam entre si através de hormônios específicos _
transformando as células de gordura branca em células de gordura marrom para
nos proteger contra o frio.
Dr. Lee mostrou
que, durante a exposição ao frio e se fazendo exercício, os níveis do hormônio
Irisin (que é produzido pelo músculo) e FGF21 (produzido pela gordura marrom)
aumentaram. Especificamente, cerca de 10-15 minutos de tremores resultaram em
aumentos equivalentes nos níveis de Irisin como se a pessoa estivesse fazendo
exercícios moderados durante uma hora. No laboratório, Irisin e FGF21
transformaram as células humanas de gordura branca em células de gordura marrom
por um período de seis dias. O estudo foi publicado em fevereiro na Cell
Metabolism (1).
Todos nós
nascemos com o suprimento de gordura marrom em torno de nossos pescoços (Figura 2), uma
maneira da natureza de nos manter aquecidos enquanto crianças. Até poucos anos
atrás, pensava-se que a gordura marrom desaparecia na primeira infância, mas
agora sabemos que a gordura marrom está presente na maioria, se não todos, os
adultos. Sabemos também que, adultos com mais gordura marrom são mais magros do
que aqueles que não a tem. Se você está pensando “Oh vontade de tê-las mais!”…
É possível e, agora, sabemos qual o mecanismo envolvido!
Grandes expectativas
e incentivos no campo da gordura marrom têm aumentado significativamente nos
últimos anos, devido a sua natureza de queima de energia fazer com que seja um
potencial alvo terapêutico contra a obesidade e o diabetes. A transformação de
gordura branca em gordura marrom pode proteger os animais, e nós seres humanos,
contra o diabetes, a obesidade e o acúmulo de gordura no fígado (ou esteatose
hepática). Inclusive, os níveis de glicose são mais baixos em humanos com mais
gordura marrom (1).
No presente
estudo, Lee propôs compreender o mecanismo subjacente para a ativação da
gordura marrom. Já se sabia que as temperaturas frias estimulam a gordura
marrom, mas não estava claro como o corpo sinaliza esta mensagem para suas
células.
O corpo pode
sentir e transmitir as mudanças ambientais aos diferentes órgãos através dos
nervos e hormônios. Estes são os mensageiros que levam a informação de uma
célula do cérebro, por exemplo, para uma célula muscular ou gordurosa. Sendo um
endocrinologista, Lee investigou os hormônios que são estimulados quando
estamos em ambientes frios.
Quando estamos
com frio, primeiro ativamos a nossa gordura marrom porque ela queima energia e
libera calor para nos proteger do frio. Quando essa energia é insuficiente, os
músculos contraem-se mecanicamente, ou tremem, gerando calor. O problema era
que não se sabia como os músculos e as gorduras se comunicavam neste processo.
Sendo assim, a
equipe do Dr Lee colocaram os voluntários em ambiente em que o frio era
aumentado, passando de 18 graus para 12 graus Celsius, até que começassem a tremer.
Então, retiraram as amostras de sangue para medir os níveis hormonais e
detectaram os tremores por dispositivos especiais, colocados sobre a pele, que
sentem a atividade elétrica muscular. Os voluntários tremiam quando a
temperatura estava entre 16 ou 14 graus Celsius, variando de pessoa para pessoa.
Assim,
identificaram dois hormônios que são estimulados pelo frio – Irisin e FGF21 –
que são liberados pelos músculos que tremiam e pela gordura marrom,
respectivamente. Esses hormônios aumentaram a taxa de queima de energia das
células de gordura branca humanas em laboratório, e as células de gordura
tratadas começaram a emitir calor. Uma função característica da gordura marrom.
A Irisin, o
hormônio que é secretado pelos músculos quando tremem, foi descoberta em 2012,
por um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard, EUA. Investimento do
NIH (Vejam só a importância do investimento público e privado nessas
descobertas). Eles identificaram-na como um hormônio que é secretado pelo
músculo quanto este é estimulado com exercício físico, que transformava a
gordura branca em gordura marrom em animais.
O aspecto
intrigante do achado foi que, o próprio exercício produz calor, então por que o
exercício muscular iniciaria um processo que poderia gerar ainda mais calor? É
como se colocássemos uma picanha suculenta na brasa e depois colocássemos mais
álcool sobre a picanha para queimar mais rápido. Com a picanha seria um
desperdício, mas no caso dos músculos, a queima extra de calor ajudaria na
redução de peso, no número de gordura branca, no controle do diabetes, entre
outras funções.
Lee convidou os
participantes do estudo expostos ao frio para participar de testes de exercício
físico para comparar os dois processos. Com isso, Lee e seu grupo descobriram
que o exercício físico com nível moderado, por uma hora em uma bicicleta,
produzia a mesma quantidade de Irisin na situação de frio, com os músculos
estremecendo por 10-15 minutos (1). Pelo
jeito, tremer de frio é um bom exercício!
Eles especulam
que os exercícios físicos poderiam imitar os tremores, já que há contração
muscular durante ambos os processos, e que a estimulação da secreção de Irisin
pelo exercício físico poderia ter evoluído a partir do estremecer dos músculos
durante o frio.
Do ponto de
vista clínico, Irisin e FGF21 representam um sistema hormonal estimulado pelo
frio, o que era até então desconhecido, e podem ser aproveitados em futuros
aspectos terapêuticos da obesidade através da ativação da gordura marrom.
FONTE: Nanocell News
Nenhum comentário:
Postar um comentário