Cláudio Domênico, cardiologista e curador dos
Encontros O GLOBO Saúde e Bem-estar, que teve a primeira edição de 2015 na
quarta-feira, dia 18 - Leo Martins.
RIO - Realizada na última quarta-feira na
Casa do Saber O GLOBO, a última edição dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar
promoveu um amplo debate sobre o impacto das redes sociais nas relações
pessoais, além dos benefícios, assim como angústias e ansiedades provenientes
deste fenômeno digital. Por mais de meia hora, público e especialistas trocaram
ideias sobre o tema. Mas nem todas as perguntas puderam ser respondidas. Além
disso, internautas que não puderam estar presentes no evento enviaram perguntas
para a produção do encontro pelo e-mail:encontros_oglobo@oglobo.com.br.
Destas, quatro perguntas foram selecionadas e encaminhadas para o curador
Cláudio Domênico. Abaixo, estão perguntas e respostas!
1) As conversas no WhatsApp funcionam como confessionário,
facilitando a comunicação aberta entre duas pessoas. Por outro lado, nos grupos
de WhatsApp, os componentes se preocupam em colocar máscaras para apresentar um
"eu" que não necessariamente reflete a realidade. Quais as vantagens
e desvantagens dessa via de comunicação?
Interessante pergunta e, como usuário deste aplicativo,
vejo como vantagens a comunicação dinâmica, facilitadora e que pode promover um
ganho de tempo enorme na vida das pessoas. Imagine uma família decidindo a ida
ao cinema ou ao restaurante, ou mesmo médicos de várias equipes se comunicando.
Muito tempo pode ser economizado, e este ganho de tempo é extraordinário para
as pessoas. Um dos problemas que às vezes observo nos grupos diz respeito à
falta de regras, de um manual de conduta, algo como um código de etiqueta
virtual, em que mensagens acabam sendo enviadas em horários impróprios ou
assuntos reservados se tornam públicos. Outro cuidado envolve a questão da
segurança dos usuários e diz respeito a falsos perfis e ao excesso de exposição
da vida pessoal.
2) Hoje há uma sucessão de monólogos coletivos: cada um fala de um assunto e nem percebe. Isso
acontece pela falta de tempo, excesso de assuntos ou surdez digital?
Acho que os dois extremos (excesso de assuntos e surdez
digital) podem ser prejudiciais para o usuário ou para os grupos. E como já
dizia Aristóteles: “a virtude está no meio” (Virtus in Mediun est). Penso que o uso
abusivo destas ferramentas pode ser prejudicial à nossa saúde, e limites
precisam ser observados. A moderação é o caminho a ser buscado.
3) Qual é o tempo recomendável de detox (sem celular,
internet e redes sociais) para quem se considera um dependente digital?
O detox digital — ou ficar fora do ar ou desconectado de
celulares ou da internet — tem sido recomendado em alguns casos, principalmente
para aqueles usuários que são realmente dependentes destas tecnologias, como
por exemplo pessoas que ficam muito estressadas ou ansiosas quando o celular
não tem sinal ou a bateria está descarregada. Não existe ainda um consenso
sobre o número de horas para esta desintoxicação. Alguns especialistas
recomendam apenas algumas horas (de uma a duas). E em casos mais severos, pode
preciso até um dia inteiro. Estes indivíduos deverão ser acompanhados por
psicólogos e/ou psiquiatras, que farão uma análise individual de cada caso.
Cabe ressaltar que esta dependência à internet já é vista como uma forma de
compulsão descrita no manual de psiquiatra norte americano (o DSM V).
4) Quais cuidados devem ser tomados com as crianças do mundo
moderno para que não virem dependentes digitais? Como identificar o problema?
Penso que as crianças de hoje pertencem a este mundo
virtual desde muito cedo, e esta realidade deve levar os pais a mostrar um
pouco do mundo real, por exemplo levando seus filhos para passear na feira para
mostrar as frutas, promovendo passeios em livrarias para apresentar os livros,
visitando zoológicos para conhecer os bichos. Ou seja, é necessário que as
crianças tenham contato com a natureza e que ambos os mundos convivam de forma
harmônica, pois o mundo virtual faz parte do mundo atual.
FONTE: O GLOBO
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