Venâncio, 7, não consome alimentos de origem animal desde que era bebê
O pequeno Venâncio de Oliveira Sanchez, 7 , tem mostrado a todos na sua
escola, em São Paulo, que excluir alimentos de origem animal da dieta, de
maneira saudável, é possível.
Desde que era um bebê, Venâncio é vegano, ou seja, não consome nada que
tenha origem animal – e isso não se restringe apenas a alimentos. Filho de pais
veganos, ele nunca ingeriu carne, peixe, frango, frutos do mar, nem seus
derivados. O pai dele, o produtor cultural Ronaldo Palleze, 45, conta que o
garoto nunca sentiu vontade de provar esses alimentos e que está bastante
adaptado ao estilo de vida da família. Mas ele afirma que durante a gestação da
também produtora cultural Fabiana Sanchez, 45, mãe de Venâncio, várias dúvidas
surgiram sobre se a filosofia de vida adotada pela família poderia prejudicar o
desenvolvimento do garoto.
"Pesquisamos sobre como crianças veganas estavam crescendo, se eram
saudáveis. Tudo o que encontramos foi muito positivo", conta Palleze. Ele
diz ainda que buscaram vários especialistas em nutrição vegana para a
elaboração de um cardápio adaptado ao estilo de vida da família.
Especialistas afirmam que, desde a introdução de alimentos na dieta de
uma criança, ela precisa consumir 1,5 g de proteínas para cada quilo de peso
corporal. A proporção vai diminuindo com o avançar da idade e, apenas na
adolescência, chega próximo ao recomendado para um adulto, que é de 0,8 g por
quilo.
Todos os tecidos e células do nosso corpo são feitos a partir das
proteínas, responsáveis pela produção de tecidos, hormônios, células de defesa,
entre outras funções. Crianças precisam muito mais dessas substâncias que
adultos para que o seu corpo se desenvolva de maneira saudável.
A nutricionista do Gluten Free, Carolina Favaron, afirma que as
proteínas estão presentes em diversos alimentos de origem vegetal que podem
oferecer à criança a mesma quantidade do nutriente que os de origem animal.
"Esse processo, no entanto, precisa ser acompanhado por um profissional
especializado para que essa introdução seja feita de maneira consciente, e que
seja capaz de suprir a necessidade de nutrientes do corpo", diz.
Ana Ceregatti, nutricionista especialista em alimentação vegetariana,
explica que as crianças têm uma maior necessidade do consumo de proteínas que
um adulto porque possuem elevada velocidade de crescimento e desenvolvimento.
"As proteínas têm um papel importantíssimo no crescimento e
desenvolvimento dos tecidos, na produção de hormônio, enzimas e formação de
células sanguíneas. [No caso de crianças veganas] A recomendação é a mesma para
adultos: de trocar as carnes por leguminosas, adequando as quantidades para a
idade", conta.
Para uma pessoa adulta, a recomendação é que se
troque um bife de carne de 100 gramas, "que é o máximo recomendado pelo
Ministério da Saúde para ingestão diária", segundo Ana, por uma concha de
qualquer leguminosa (feijão, ervilha seca, grão-de-bico, soja, por exemplo). A nutricionista
chama a atenção, no entanto, para o fato de que a soja não deve ser consumida de maneira
indiscriminada. "A soja possui fator
antinutricional, ou seja, substâncias que atrapalham a digestão de nutrientes
pelo corpo. Por isso, precisa ser consumida de forma tratada, por exemplo,
transformada em tofu", diz.
O nutricionista especializado em dietas vegetarianas, diretor da
Nutriveg Consultoria em Nutrição Vegetariana, George Guimarães, aponta ainda
que, embora a proteína vegetal possa suprir as necessidades nutricionais de uma
criança, é preciso atentar para outros nutrientes, especialmente no caso das
crianças. "O primeiro nutriente a se cuidar é a vitamina B12, que é o
único nutriente que não pode ser obtido a partir dos alimentos vegetais.
Portanto, ela deve ser suplementada tanto por adultos e principalmente por
gestantes, lactantes e crianças. O mesmo vale para o ômega-3, que precisa
receber atenção especial na dieta. Uma boa fonte desse nutriente é o óleo de
linhaça prensado a frio, por exemplo", diz.
Arquivo Pessoal
A mãe de Venâncio conta que ficou apreensiva, mas desde que tomou a
decisão de incluir Venâncio no estilo de vida familiar, foi assessorada por
profissionais especializados.
Fabiana e Ronaldo pesquisaram muito antes de incluir o filho no veganismo
A maior preocupação, no entanto, foi com o social. Os pais temiam que o
filho se sentisse diferente das outras crianças e excluído. "Os familiares
às vezes tratavam ele como coitadinho. Perguntavam 'mas o que acontece quando
ele vai a alguma festinha?', não pode comer nada. Mas depois eles foram
entendendo. Agora, a minha mãe começou a aprender a fazer receitas veganas para
ele e a minha sogra, a boleira da família, passou a fazer bolos veganos
pensando nele", disse.
Preocupados com o convívio de Venâncio na escola, Ronaldo e Fabiana
colocaram o garoto para estudar em um colégio de orientação vegetariana.
"Mas, eles não tinham muita ideia do que era o veganismo. Demorou um pouco
para que conseguissem entender. As coisas têm melhorado a cada ano", conta
Fabiana.
Ela diz ainda que houve um trabalho de envolvimento das outras mães da
escola e dos professores. "Em um dos aniversários, eu enviei um bolo
vegano. Todos comeram e gostaram muito. No outro, uma mãe enviou um bolo
'normal' e eu mandei uns pedaços de um vegano para o Venâncio. A professora
montou o bolo em formato de formiga, e o vegano foi as anteninhas dele. Assim,
o meu filho pode participar como todas as crianças", conta.
FONTE: UOL
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