Eles crêem que, no
futuro, humanos serão mesclados a máquinas; especialistas falam em
oportunidades e perigos
Toque magnético: Rafael
Leão consegue atrair peças de metal com o ímã dentro do dedo
Com um chip RFID (de
identificação por radiofrequência) implantado na mão esquerda, o empresário
Erico Perrella é o único capaz de desbloquear seu smartphone, e só com a sua
proximidade ao aparelho. Já o body piercer Rafael Leão consegue atrair objetos
de metal e, segundo ele, sentir energias magnéticas devido ao ímã que possui na
ponta de um dos dedos. Apesar de parecerem personagens de ficção científica,
ambos fazem parte de um fenômeno real: são adeptos do transumanismo (H+, na
sigla), um movimento intelectual que prega o uso da tecnologia para ampliar as
capacidades humanas, e que, segundo historiadores e futurólogos, poderá alterar
a evolução da nossa espécie com novas oportunidades, mas, também, assustadores
perigos.
No entanto, enquanto
seus entusiastas veem os implantes subcutâneos como um pequeno passo em direção
a um futuro em que homens e máquinas poderiam compor um ser híbrido, para o
Conselho Federal de Medicina (CFM) a novidade representa um potencial risco à saúde
destas pessoas — o que não impede que brasileiros adquiram as peças em sites
estrangeiros e as implantem por conta própria, ou com a ajuda de body piercers.
— Ao mesmo tempo que parecem
brincadeira, esses implantes sinalizam um futuro que faz sentido — afirma
Perrella, de 23 anos, que possui o chip na mão desde o final de 2014, quando o
colocou com a ajuda de um amigo. — Não à toa, empresas como o Google vêm
investindo em soluções como lentes de contato que levem informações aos olhos
de seus usuários. No futuro, quem sabe, poderemos trocar nossos membros por
outros mecânicos, melhores, como uma mão mais forte.
Referência na realização
de implantes de chips e ímãs no Brasil, o profissional de body piercing Rafael
Leão, de 30 anos, conta já ter feito o procedimento em ao menos 14 pessoas
desde 2012.
— Realizo o implante por meio de
seringas e agulhas descartáveis, que são vendidas com os próprios chips e ímãs.
O cliente chega com as peças, que são encapsuladas em materiais biocompatíveis
(cerâmicas e vidros não rejeitados pelo corpo), e eu faço o procedimento, que
custa em torno de R$ 150 — explica ele, garantindo que é tudo legal. — É bem
rápido, e feito de acordo com as normas acordadas com juntas médicas. Não há
cortes.
Leão, que também tem um ímã em uma das
mãos, diz que se interessou pelo H+ após ter entrado em contato com alguns de
seus adeptos fora do país:
— Comecei a ter contato com um pessoal
de fora com esse tipo de implante, e aí fiquei curioso. Hoje tenho um ímã em
uma das mãos, e é quase como um sexto sentido. Você vai pegar um fone de ouvido
e sente o magnetismo.
MOVIMENTO MUNDIAL
E os brasileiros não estão sozinhos na
adoção dos implantes. No início deste ano, o edifício Epicenter, na Suécia,
ofereceu aos 400 trabalhadores do prédio a opção de trocar o crachá de acesso
ao local por um chip RFID, que poderia ser implantado nas suas mãos.
No mês passado, foi a vez de o
pesquisador de segurança digital Seth Wahle virar notícia ao adotar o implante
subcutâneo para hackear smartphones com o sistema operacional Android — o
experimento foi apresentado na conferência Hack Miami, nos EUA.
Esses episódios, no entanto, são
apenas uma pequena parte de um movimento maior e mais antigo. Com uma origem
que remonta ao início do século passado, o H+ tem, inclusive, uma associação
internacional: a Humanity+. Criada em 1998 pelos filósofos Nick Bostrom e David
Pearce, ela atualmente conta com mais seis mil membros em todo o mundo, e se
dedica ao “uso ético da tecnologia para expandir as capacidades humanas”.
Além disso, vislumbrados em obras como
os filmes “Blade Runner” (1982), a série de TV “Jornada nas estrelas” e até em
jogos de videogame, como “Deus Ex: human revolution” (2011), os conceitos por
trás da integração entre homens e máquinas encontram eco nas observações de
diversos especialistas conceituados.
Mão digital: Entusiasta
do transumanismo, o empresário Erico Perrella possui um chip RFID implantado na
mão e é capaz de desbloquear seu celular apenas com a sua presença.
Notório por suas previsões acertadas —
em 1990, ele anteviu a ascensão da internet —, o engenheiro do Google Ray
Kurzweil, por exemplo, acredita que até 2030 seremos capazes de conectar nossa
mente à nuvem de dados.
— Nosso pensamento será um híbrido
biológico e não biológico. Vamos gradualmente nos mesclar (com a tecnologia) e
nos aprimorar — afirmou ele em uma palestra recente em Nova York.
Autor do best-seller “Sapiens — Uma
breve história da humanidade”, o historiador israelense Yuval Harari afirma em
seu último livro, “A História do amanhã”, publicado este ano, e disponível
somente em hebraico, por enquanto, que os próximos objetivos da Humanidade são
justamente “vencer a morte”, “alcançar a felicidade” e “melhorar o corpo”, por
meio do uso de aprimoramentos tecnológicos.
— Pela História houve muitas
revoluções econômicas, sociais e políticas. Mas uma coisa permanece constante:
a própria Humanidade. Ainda temos o mesmo corpo e a mesma mente que os nossos
ancestrais, sejam aqueles do império inca ou do antigo Egito. No entanto, nas
próximas décadas, pela primeira vez, a Humanidade passará por uma revolução
radical — explica Harari, em entrevista por e-mail. — Nossos corpos e mentes
serão transformados pela engenharia genética, nanotecnologia e interfaces entre
cérebro e computadores. Assim, corpos e mentes serão os principais produtos do
século XXI.
No entanto, de acordo com Harari, ao
mesmo tempo que o H+ sinaliza novas oportunidades, ele também nos apresenta
novos riscos:
— Se as elites do século XXI tiverem
acesso preferencial a tecnologias de aprimoramentos corporais, o resultado pode
ser a tradução da desigualdade social em um desequilíbrio biológico.
Enquanto este futuro não chega, os
entusiastas do transumanismo dão pequenos passos em direção à tendência
adquirindo seus chips e ímãs em lojas on-line especializadas no segmento.
Na americana Dangerous Things, por
exemplo, uma das principais do mercado, é possível encontrar estes itens por
valores entre US$ 39 e US$ 69. No caso dos chips, eles variam entre duas
tecnologias de transmissão de dados: RFID e NFC, esta última compatível com a
maioria dos smartphones modernos.
Raio X mostra chips
implantados nas mãos de Amal Graafstra - Arquivo Pessoal
CFM: ‘PRÁTICA PERIGOSA’
Fundador da loja e autor do livro
“RFID toys“ (“Brinquedos RFID”, em tradução livre), Amal Graafstra se
interessou pelo movimento H+ em 2005, quando teve a ideia de criar um meio de
entrar em seu escritório e na sua casa sem que fosse preciso usar chaves. Para
isso, recorreu a um chip subcutâneo RFID e, pouco tempo depois, decidiu abrir a
sua loja on-line:
— Percebi que o interesse sobre os
implantes de chips RFID vinha crescendo, mas as pessoas careciam de
fornecedores seguros desses itens, que eram encapsulados em vidro e com
componentes tóxicos. Por isso criei a minha loja, para fornecer apenas itens
com materiais de qualidade, biocompatíveis, e testados.
No entanto, para o médico e membro do
Conselho Federal de Medicina (CFM) Sidnei Gusmão, os perigos que tais itens
representam são maiores do que seu tamanho faz parecer:
— Eles não são aprovados pelas
autoridades médicas. Ao injetá-los por debaixo da pele, as pessoas podem
atingir vasos ou artérias, fazendo com que o corpo estranho possa migrar para
órgãos. Mesmo que as peças sejam pequenas, o problema decorrente disso pode ser
enorme.
FONTE: O Globo
Nota NEFROADVEN:
Muitos acreditam que a profecia bíblica da marca da besta na mão e na fronte será o implante literal de um chip sem o qual não se poderá comprar comida nem entrar em estabelecimentos essenciais. Tudo será controlado pelos senhores do mundo. Em troca do chip que nos permitirá fazer as coisas mais elementares, deveremos obedecer às vontades dos poderosos, mesmo que as ordens contrariem a vontade de Deus. Seria mais ou menos assim: Obedeça a Deus, desobedeça aos poderosos e recuse o chip e fique sem comida, sem abrigo, sem saúde e sem família. Desobedeça a Deus, obedeça aos poderosos, aceite o implante do chip e tenha acesso a tudo isso. Seria uma pequena vertente da grande perseguição aos cristãos do fim dos tempos. Será possível que isto aconteça? Minha resposta é quem poderá dizer que não?
Mário Lobato
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